Está a perfazer uma década, que a Fraternal apresentou ao Conselho Permanente da AEP uma proposta para que aquele Órgão associativo, recomendasse à Chefia Nacional, “o estabelecimento de um Protocolo com a Fraternal, para a criação de um grupo de trabalho, com a missão específica de recolher e promover dádivas de espólios de escoteiros e grupos, proceder ao seu tratamento e catalogação, tendo em vista a futura existência de um Museu Escotista, bem como de um Álbum digital de documentos e fotografias do passado escotista”.
A proposta foi aprovada, tendo-se seguido a elaboração do citado Protocolo e a tomada de posse, em 21/11/2015, do Grupo de Trabalho (Equipa Instaladora) encarregado da organização e do funcionamento dos diversos serviços e tarefas, que permitissem alcançar os objetivos gerais do projeto, equipa essa que começou imediatamente a trabalhar, mas cuja ação se tem mostrado lenta e difícil, perante a sua reduzida dimensão, a falta de saúde de alguns elementos, e certa apatia do mundo associativo.

O Museu do Escotismo, é, no entanto, já uma realidade. Para além do património histórico que já expõe, poderá ser também um centro de aprendizagem, onde todos poderão interagir, rumando em paralelo a um interesse comum, o saber. É local privilegiado de experimentação e de outras formas de sociabilidade, espaço de cidadania, que possibilita o encontro com a história, as técnicas, o conhecimento novo, uma lembrança e uma emoção, que nos oferece a possibilidade de observar diferentes práticas e tecnologias. É um espaço aberto a todo o público, livre para ser visitado por quaisquer grupos. É isso que se espera, o museu como centro de conhecimento, não apenas para escoteiros, mas para todo e qualquer público.
É assim oportuno, chamar a atenção para a importância de tal projeto e referir a validade pedagógica da existência do Museu do Escotismo e de um Centro de Documentação dos Escoteiros de Portugal, assunto que está muito para além dos considerandos referidos na proposta levada ao Conselho Permanente, a saber:
“Considerando a riqueza histórica da Associação dos Escoteiros de Portugal;
Considerando que para projetar o futuro não se pode ignorar o passado;
Considerando que é consensual a grande importância e a riqueza patrimonial que representa para uma instituição como a AEP a existência de um Centro de Documentação e Interpretação, dedicado à recolha e tratamento de um acervo que testemunhe o seu passado histórico e os seus Valores”.
Os Escoteiros de Portugal são uma associação educativa para jovens. Enquadram-se nas suas atividades e no método de educação não formal que utiliza, a proteção e o contacto com a natureza, a educação ambiental, a intervenção social, a cooperação para o desenvolvimento, a promoção para o voluntariado social, a formação cívica e o culto da paz, da cultura, do desporto, da vida saudável e a formação para uma cidadania responsável.
Ora um museu é, por definição, uma instituição permanente, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento. É por excelência, um espaço pedagógico e de divulgação do conhecimento. É também um espaço de prazer, de descoberta, de gosto pelo saber, de aprendizagem não formal e convida à pesquisa, tal como a educação escotista. É acima de tudo um espaço cultural, e neste caso concreto, o local onde se expõem os testemunhos materiais da Associação, a sua história e a de um Movimento, que reflete os seus valores e princípios.
De acordo com as Bases do Projeto, o Museu do Escotismo (e o Centro de Interpretação e Documentação, a ele ligado, ou melhor, nele integrado), "extravasa a ideia de ser um mero local para acumular e expor objetos, para assumir um papel importante na interpretação das atividades e do método educativo usado no Movimento, na consolidação da cidadania e da consciência ecológica, do respeito pelas diferenças culturais e étnicas, assim como no incremento da qualidade de vida, dando a conhecer também a história do Escotismo no mundo e a história da Associação dos Escoteiros de Portugal, em particular".
A educação não pode estar separada da cultura, que é aquilo que ampara, dá forma e conteúdo à educação. A educação e a cultura são práticas indissociáveis, estão extremamente interligadas no processo ensino aprendizagem.
O museu está ao serviço do educador escotista. É um bom instrumento para apoiar pesquisas e iniciar estudos e contribuir para o que deve ser o mais importante no trabalho do dirigente – fazer o escoteiro aprender a pensar. Tal como se escolhe um livro ou um capítulo dele para apoio de uma matéria, também o Museu pode ser uma escolha para iniciar um assunto, complementar uma atividade, ou até mesmo ajudar a provocar uma discussão.
A educação deve promover a observação atenta e o pensamento crítico, criativo e dinâmico.

É a Organização Mundial do Movimento Escotista que refere:
“a educação Escotista vai muito para além da educação formal (a educação escolar), tanto em alcance como em duração”, e explícita:
“A educação é um processo contínuo de desenvolvimento que não tem lugar apenas durante os anos de formação (infância e adolescência). Continua ao longo da vida”.
A educação pelo Escotismo, é uma proposta que procura exercer influência no cidadão para agir, por si, em favor do próprio e ao serviço da sociedade, considerando que:
“Como individuo, deve contribuir para o aperfeiçoamento de todas as suas capacidades e em todas as áreas de desenvolvimento - física, intelectual, emocional, social e espiritual.
Como membro de uma sociedade, deve contribuir para o desenvolvimento de uma consciência e preocupação com os outros, do sentido de pertença a uma comunidade e à sua história e evolução.
Estas duas dimensões não podem ser dissociadas, uma vez que não há “educação” sem uma procura do pleno desenvolvimento do potencial duma pessoa, e não há “educação” sem a aprendizagem da vida com os outros, enquanto membro das comunidades local, nacional e internacional”.

Educação e cultura devem, assim, seguir sempre em paralelo. A educação deve ter o património e o conhecimento do passado como referencial, considerando-o suporte fundamental para aplicar na ação educativa. Um museu está carregado de diversidade, é o resultado de uma relação em que a história e o património são construídos e reconstruídos em cada momento pela ação do homem.
A educação através da visita aos museus possui um importante foco de interesse na atualidade, tanto no que diz respeito ao seu papel social, quanto no que se refere às práticas realizadas nesse espaço e suas possíveis reflexões.
O museu é um espaço propício para a interação entre escoteiros, dirigentes, e outros adultos e fontes diversificadas de aprendizagem porque o papel dos museus é mesmo este: informar, atualizar, conhecer, estudar e investigar.
Um museu ajuda a compreender os legados do passado e a dar exemplos para as novas gerações.
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